Amores (a)típicos
#8
episódio
Título: Amores (a)típicos
Data de publicação: 7/2/2022
Cocriação: Sophia Mendonça e Marcos Maia
Cidades/UF: Belo Horizonte/MG
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Olga Aureliano: seja para pessoas neurotípicas ou autistas, percebemos que o amor não possui uma forma única de se expressar. Não existe um amor típico. Os relacionamentos e o amor romântico são desafiadores para todo mundo. Para autista, então, o assunto pode ganhar outras camadas de complexidade. Ou será que não? Marcos Maia e Sophia Mendonça mediam este diálogo neste episódio, com grandes convidadas e convidados. Aproveitem.
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Sophia: olá, seja bem-vindo ao podcast Amores (a)típicos. Este podcast é uma parceria com o Projeto Retratos Defiças. Eu sou Sophia Mendonça, jornalista, escritora e pesquisadora, e acredito que o amor nos inspira a ser melhor.
Marcos: e eu sou Marcos Maia, roteirista e também pesquisador. Independente, se junto ou se só, espero que vocês fiquem com muito amor no coração.
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Sophia: vamos falar aqui de amor. Ou melhor, amores atípicos.
Marcos: o amor, ou os relacionamentos amorosos que envolvem pessoas autistas e como elas lidam e vivenciam essa experiência.
Sophia: mas antes, faço o convite pra conhecer o canal Mundo Autista, que eu apresento com minha mãe Selma Sueli, também é autista. Onde compartilhamos nossas vivências e conhecimentos em relação ao autismo. Só procurar lá no YouTube pelo “Mundo Autista”.
Marcos: bom, pra quem não sabe as diferenças na comunicação é uma das principais características do autismo, sendo assim, reunir para um encontro autistas de diferentes níveis de suporte e corporalidades é sempre um desafio, mas acredito que conseguimos minimamente trazer diferentes perfis para esse diálogo.
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Marcos: são três casais, sendo um casal, demissexual com uma autista e uma talvez autista, um casal intergeracional, em que o mais novo é autista e o mais maduro talvez seja também, e por fim um casal de autistas que formou família com seus filhos de outros casamentos. Ainda, quatro mulheres, todas autistas, sendo uma jovem assexual, uma professora separada, uma jovem lésbica e uma recém diagnosticada iniciando um relacionamento. Além de, uma psicóloga autista, que abre os diálogos, e um psicólogo, também autista, que finaliza após as participações dos demais entrevistados. Claro que pra isso adotamos algumas estratégias.
Sophia: de todos os entrevistados apenas uma não se identifica, a professora, e uma outra possui dificuldade com comunicação oral. Ambas, interagiram conosco através da escrita, convidamos então as atrizes: a atriz Ju Colombo, que interpreta Dalva na nova novela ‘um lugar ao sol’ da rede globo, que está representando a professora, e a atriz Isabela Garcia, que interpreta Ana Bezerra na novela ‘bebê a bordo’. Também da rede globo, está representando a jovem que se identifica como assexual, que no caso é a Carol Souza, conhecida pelo seu Instagram ‘Autistando’. Inclusive, recomendamos de mais que você conheça o perfil dela lá no Instagram.
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Marcos: seja para pessoas neurotípicas ou autistas, percebemos que o amor não possui uma forma só de se expressar. Não existe um amor típico. Os relacionamentos e o amor romântico, é sem dúvida um desafio pra todo mundo, pra autistas então; o assunto pode ganhar outras camadas de complexidade. Ou será que não? De qualquer forma, acreditamos muito na importância de diálogos como este, e esperamos que você goste.
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Sophia: quantas vezes você viu as relações com, ou entre pessoas autistas sendo retratadas ou faladas nas mídias e nas artes? Sabemos o quanto as representações costumam ser estereotipadas e tendo a compreensão com quem cria esses personagens. A verdade, é que nenhuma representação única vai dar conta ou até se aproximar da diversidade de formas de ser, pensar, sentir e se relacionar das pessoas autistas. Sendo assim, nada melhor do que saber dos próprios autistas como eles lidam com as questões de relacionamento, amor, convivência e quais são os desafios e oportunidades pra quem se aventura nessa loucura que é o amor.
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Sophia: nossa primeira entrevistada é a doutora em psicologia e autista Táhcita Mizael.
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Táhcita: quando a gente fala sobre sexualidade, de maneira geral, é comum que as pessoas pensem sobre o ato sexual em si, e quando a gente fala de afetividade, é comum que as pessoas pensem em afetos positivos, então, em sentimentos e emoções como carinho, como cuidado. A gente tem na literatura essas duas informações, né? Então dados mostrando que há uma maior diversidade de gênero e sexual, dentro da comunidade autista, né? Dentro do espectro, e também uma menor aderência a essas regras sociais, principalmente a regras que parecem não fazer sentido. Acredito que essa menor sensibilidade as regras sociais, facilitam essa maior fluidez, mas isso de fato é uma coisa que a gente ainda não tem uma comprovação cientifica, até onde eu sei. Não, não vejo, não senti diferenças significativas nessa percepção do amor romântico, o que eu noto as vezes é, por exemplo: uma grande rigidez a essas regras, então é, pessoas extremamente estre aspas conservadoras, então criam essas regras de que o indivíduo por exemplo, ele só pode ter relação sexual depois que ele casa, ou que ele precisa casar e ter filhos, né? Coisas nesse sentido, mas ao mesmo tempo eu conheço pessoas autistas que tem relacionamentos abertos, né? Que não estariam aderindo de maneira rígida a esse constructo do amor romântico, que exatamente, é ao contrário, problematiza essa concepção. Relacionando isso com pessoas típicas e atípicas, também fica difícil, porque justamente, eu conheço pessoas também desses dois polos, né. Muito importante essa comunicação aberta sobre dúvidas, sobre coisas que não tão muito entendidas, sobre esses seus desejos, sobre os seus limites, se possível, né, tenha, estude sobre educação sexual, né. Estude sobre questão de autonomia, estude sobre relacionamento abusivos, né. Pra que seja um pouco mais fácil de discriminar se você tiver num relacionamento desse tipo, se você conhece pessoas que podem ser e se comportar de maneira abusiva. E aproveite o momento também, né. Acho que você ter um relacionamento é um momento de, é um momento de vulnerabilidade, mas que é uma vulnerabilidade que não deveria vir sozinha, é uma vulnerabilidade que deve vir também, com um repertório ali de conhecimento, né. Esse repertório, que com a terapia ajuda bastante, mas com essas questões de autoconhecimento, que vai te ajudar a aproveitar essa relação. Cuidar da pessoa, mas também observar se ela está te cuidando, então ter essa coisa da troca, acho que é uma coisa nesse sentido.
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Sophia: muito obrigada, Táhcita. É interessante quando você pontua essa maior fluidez das orientações sexuais das pessoas autistas. A gente tem vários mitos sobre as orientações sexuais de indivíduos no espectro, como se todo autista, fosse necessariamente um homem branco, cisgênero e heterossexual. Mas na realidade prática, a gente percebe que não é bem assim, há uma maior possibilidade dessas expressões do que acontece com as pessoas típicas. E por falar nisso, a nossa próxima entrevistada é justamente a Carol Souza, que se identifica como assexual. A Carol, é um autista nível 2 de suporte, ela tem dificuldades pra se comunicar por meio da linguagem oral, então a gente convidou a atriz Isabela Garcia, que gentilmente cedeu sua voz para representar a Carol aqui nesse podcast.
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Carol Souza na voz de Isabela Garcia: meu nome é Caroline de Souza, 28 anos, não tenho uma profissão. Tive diagnóstico de autismo aos 23 anos, descobri ser assexual, lendo coisas de outros autistas que se identificavam com assexualidade. Já namorei, mas não durou muito, e era complicado porque eu me sobrecarregava de mais com as interações e não tinha interesse em ter mais intimidade, contato físico etc. Eu acabava entrando em crise, e era muito estressante. Já fui invalidada pela minha antiga psicóloga, ela disse que não existe como dizer que é assexual, sem ter experimentado relações antes, eu acreditei, mas me senti mal porque eu não queria experimentar nada. Então, depois um colega disse, que isso não existe e não podemos nos forçar a fazer algo desconfortável para experimentar, você só se identifica e pronto. Hoje eu entendo que falta muita informação, principalmente para profissionais. Se eu tivesse resolvido tentar, como a psicóloga disse, seria uma tortura pra mim. Não tenho vontade de me relacionar amorosamente, não vou dizer que não vai acontecer, porque eu posso mudar de opinião em um futuro, mas por enquanto, acho muito estressante. Creio, que é mais difícil se for com alguém que não seja assexual também, não sei identificar se já e apaixonei.
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Sophia: essa situação de ser invalidada por profissionais da saúde que acompanham o nosso caso, é mesmo muito delicada, eu mesma já passei por isso bastante na minha vivência como uma mulher autista trans. Por outro lado, é bacana como a gente tem a possibilidade de conseguir se comunicar com outras pessoas que vivenciam experiências similares por meio da internet. É curioso perceber como a sexualidade, de uma maneira parecida com o autismo, também se manifesta como um espectro, então do mesmo jeito que nós temos a Carol, que é assexual, existem pessoas que se identificam como demissexuais. É o caso do próximo casal que nós vamos entrevistar, o Annibal e a Melissa.
Marcos: bom pra quem não sabe, a demissexualidade, é uma forma de identificar as pessoas que elas não vão se atrair inicialmente por um atributo físico, alguma característica sexual da outra pessoa e sim, ela vai depender da conexão emocional, e depois vai haver o desejo e o interesse sexual.
Annibal: meu nome é Annibal Franco, tenho 35 anos e sou professor de arte. Em março de 2019, eu obtive meu diagnóstico de autismo.
Melissa: oi meu nome é Melissa, tenho 22 anos, trabalho como auxiliar de contabilidade, e não tenho diagnóstico de autismo.
Annibal: é, sobre ser demissexual, ambos nos consideramos demissexuais e nos relacionamentos o mais importante são sempre as conexões mentais. A gente teve assim, uma super conexão desde o início, porque ambos né, consideramos que o amor não é só o fato de ter ali a paixão, a gente também faz questão dessa amizade, dessa conexão, do querer estar junto.
Melissa: do querer ver o outro bem.
Annibal: de pensar no outro, assim, a gente sempre pensa um no outro constantemente assim. E, é a gente se vê estando um com o outro em todos os momentos da vida, não é amor?
Melissa: e eu tenho um carinho muito grande pelo Annibal, ele é meu melhor amigo, e um namorado maravilhoso.
Annibal: bom é, falando sobre o nosso dia a dia. Talvez por causa do meu autismo, né. Ou também de questões pessoais, tanto minhas, quanto da Melzinha, né. Eu sempre acreditei, em princípio, que eu precisaria sempre do meu tempo e ela precisaria sempre do tempo dela, mas o interessante é que essa nossa integração, é tem sido tão grande que a gente... Vamos dizer, como eu digo isso? A gente consegue descansar estando juntos, eu acho que isso realmente é o melhor do nosso relacionamento. Sobre o autismo, e necessidade de um vínculo afetivo, eu admito que já conheci muitos autistas assexuais e demissexuais, talvez até a maioria dos que eu conheço. Agora, sobre os demissexuais autistas, eu acho que faz muito sentido, por que? Porque o autismo nos traz né, uma dificuldade social e automaticamente relacional, então a gente naturalmente, nós autistas, temos uma dificuldade de gerar conexões por vários motivos. Então, quando a gente consegue achar essa pessoa, assim, é mágico, né. Então, por isso que eu falo, que pode ser seja até que seja mais comum, né. Mas quando a gente consegue essa conexão especial, ela vai longe. [risada da Melissa] Não estamos fechando diagnósticos, mas o curioso é que a Melzinha tem muitas características, e ela também tem essa dificuldade social e emocional, e ela só consegue se ver num relacionamento, né amor? Quando há essas conexões mentais.
Melissa: é, não sei pra outras pessoas, mas pra mim imprescindível. Eu nunca consegui me relacionar com ninguém, nem que seja tipo uma ficada, um beijo num desconhecido sem ter, é....
Annibal: essa conexão.
Melissa: essa conexão emocional.
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Melissa: pretendemos...(risos).
Annibal: morar juntos, talvez ter um cachorro.
Melissa: casar e não ter filhos, até porque eu nunca quis, e ele também não. Então já temos...
Annibal: tudo pra dar certo. [ambos dão risadas] Um relacionamento bem romântico e clichê, né amor?
Melissa: é, eu acho que no fundo todo mundo que isso, só não admite.
Annibal: nós, assim, queremos, sonhamos e esperamos que seja assim sempre, né amor? E eu te amo.
Melissa: também te amo.
Annibal: beijo [som de beijo]
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Sophia: ai gente, que gracinha de casal. Eu desejo realmente, que vocês tenham muito sucesso nesses planos conjuntos, porque a história de vocês é muito bonita e inspira muito a gente.
Marcos: com certeza, acaba até sendo um alento, né, pro momento que a gente tá vivendo, ouvir histórias desse tipo realmente inspiram. E eu adorei a fala né, de que, ‘todo mundo que isso e não admite’, eu concordo 100%, todo mundo é bastante hipócrita, as pessoas acabam, né, vestindo uma armadura, ficando na defensiva, mas no fundo, no fundo, é isso mesmo o que todo mundo quer. Claro que nesse caso é um momento de muita expectativa que o casal tá vivendo, bacana, mas existem outras fases da vida, né.
Sophia: isso mesmo Marcos, inclusive a nossa próxima entrevistada já viveu um relacionamento, já viveu suas próprias experiências e está em outro momento. Ela vai contar um pouco dessa história pra gente. Como ela é professora, tem participado de várias atividades por vídeos nos últimos tempos, em função disso, ela está muito sobrecarregada e optou por escrever um texto, ao invés de gravar a entrevista, por isso convidamos a atriz Ju Colombo para representá-la.
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Professora na voz de Ju Colombo: eu tenho 45 anos, sou professora e tive diagnóstico aproximadamente um ano. Eu tenho um sentimento assim de desencache desde criança, que se acentua mais ou menos dependendo da época da vida. Aprendi a conviver com isso, não me incomoda mais, por exemplo por que que eu não tenho amigos íntimos, e por que que eu não ligo de não ter amigos íntimos? Por que conversar com as pessoas que não compartilham dos meus interesses é tão difícil? Por que que eu não tenho, não tenho interesse em compartilhar as coisas com as pessoas? Já estive em relacionamento, o desafio geral passa pelas questões de ajuste emocional e comunicacional. Meu último relacionamento foi um, [risada leve] um tsunami emocional. A minha vida é muito calma, eu trabalhei muito pra ter sossego, aí chegou alguém cheio de problemas e me capturou. Dramas alheios, problemas alheios, demandas alheias, e eu deixei de viver pra mim pra viver para ajudar o outro a solucionar problemas insolúveis. Esse papel é muito esgotante, e muito solitário. No médio prazo eu fico exausta e o relacionamento me exaure e entra em crise. Namoros e relacionamentos sugam muita energia, aí eu, meus projetos, meus interesses vão ficando de lado, porque eu não tenho energia pra tocar. Dois aspectos são desafiadores, mas os hiperfocos e a vida profissional tem sido, ao longo da minha vida muito mais estáveis e gratificantes. Eu entendi finalmente, quem eu sou, quais os meus limites e características e eu consigo evitar melhor situações esgotantes e possíveis meltdown.
Marcos: pra quem não ouviu o termo, meltdown é um tipo de crise nervosa, né? É uma falta, uma perda de controle emocional temporária. E tanto o meltdown, quanto o shutdown ou burnout são condições que podem acometer uma pessoa autista em situações de muito estresse.
Professora na voz de Ju Colombo: eu sou difícil de conviver, porque o meu comportamento é marcado pela eterna dicotomia, entre ser lógica e regrada ao mesmo tempo em que eu tô flertando o tempo todo com uma disfunção executiva. Eu preciso de ordem, organização, repetições, roupa, comida, hábitos e de previsibilidade, pra eu não cair em disfunção e me desorganizar externa e internamente. E a presença de uma outra pessoa dificulta muito isso aí. Eu penso também que eu vivo um paradoxo, ao mesmo tempo que eu quero muito um relacionamento, estar com alguém, me casar. Eu tenho uma necessidade enorme de estar sozinha e fico muito cansada convivendo, porque eu sinto uma overdose de interação social muito facilmente.
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Sophia: amor é andar de mãos dada pela vida. Tem que ter paz, compreensão, parceria, acolhimento. Se não pô, qual o sentido de isso acontecer?
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Marcos: é, fica o questionamento para o ouvinte refletir. E essa situação paradoxal de querer estar junto, mas também querer estar só, é bem comum entre os autistas, pelos relatos que a gente ouve, pelo que a gente conhece aqui. Eu acho que se conhecer né, entender os seus limites, é um primeiro passo importante para essa aventura a dois.
Sophia: e falando em aventura a dois, vamos conhecer a relação do casal intergeracional Lucas e Arlindo, e como que eles lidam com os desafios dessa vida compartilhada.
Arlindo: ei Sophia, boa noite. Meu nome é Arlindo Barcelos, eu tenho 50 anos e quanto a profissão eu estou em período de transição, é, eu sempre fui artista, trabalhava com bordados de roupa de festa e vestido de noiva, agora eu to fazendo técnico de enfermagem.
Lucas: oi Sophia. Meu nome é Lucas Silveira Biondini, eu tenho 23, sou estudante e tive o diagnóstico com 12 pra 13 anos.
Arlindo: Sophia, a gente se conheceu através de rede social, a princípio por causa do autismo, foi numa época em que eu estava pesquisando a respeito, porque eu me identifico com a questão do autismo. Não tenho diagnóstico, mas o Lucas mesmo concorda que eu tenho muitas características.
Lucas: Sophia, e quando eu conheci o Arlindo, eu tinha acabado de passar por um; estava passando por vários processos de que eu tinha... quase tive sucesso numa tentativa de suicídio. Fiquei quase três meses internado no João 23, um mês em coma, um mês e pouco em coma. É, quando eu conheci o Arlindo a minha vida tava muito turbulenta, minha vó por exemplo, tinha acabado de ter um AVC, e tava uma pressão absurda sobre mim, porque ela é muita ligada a mim e eu muito ligado a ela. E aí é, eu conheci o Arlindo e consegui me afastar um pouquinho e focar em mim, entendeu? Aprender quem eu sou, e tal e uma vida sem ser dependente dos meus pais, uma vida que eu já começasse a ser sozinho, entendeu. Completamente sozinho, ir morar sozinho, junto com ele, entendeu, ter controle de casa, essas coisas aí. Ele teve que me ensinar absolutamente tudo: como arruma, como faz isso, como eu nunca tinha tocado numa vassoura na minha vida por exemplo, feito comida, a única coisa que eu comia antes de conhecer o Arlindo, eu tinha uma seletividade alimentar muito alta, ou era doce e comida literalmente era carne e arroz, mais nada. E aí com o Arlindo, ele foi me apresentando e acrescentando na minha alimentação aos poucos diversas coisas, inclusive a única coisa que eu sempre detestei, que é verdura, essas coisas. Então, hoje eu como, já estou comendo muitas e muitas coisas que eu jamais imaginaria comendo, só é isso. É, mais ter essa responsabilidade comigo mesmo e ver o mundo de um jeito mais sociável, né. Que é um dos nossos rótulos.
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Arlindo: bom, a gente tem interesse por muita coisa em comum, artes teatro, concertos, cinema é, programas jornalísticos, no dia a dia...
Lucas: política.
Arlindo: política principalmente. No dia a dia em casa com os nossos bichos, cuidando das plantas, deles.
Lucas: a gente cozinha juntos muito bem, tanto que antes da pandemia, o Arlindo estava desempregado, recebendo seguro-desemprego, e eu e ele abrimos uma empresa. Vendíamos bolos e doces e roscas, essas coisas, chamava ‘bom bolo’, entendeu? Tinha até uma cartela boa de clientes, mas, veio a pandemia, e aí com essa questão da minha tentativa de suicídio eu não podia ficar saindo na rua pra entregar, as entregas, né. Autista ou não, isso também não, independente do rótulo, né do CID, do rótulo ou não, eu como pessoa, e o Arlindo, como pessoa nossa relação é boa, e tem os seus atritos, como qualquer relação, por questões da vida.
Arlindo: bom Sophia, a questão do hiperfoco pra mim o que mais me incomoda nele, é a necessidade, ele é muito focado em física, em astrofísica que são assuntos que não me interessam em nada.
Lucas: mas aí sempre a gente chega num consenso entendeu? Tipo, por exemplo: a gente chegou a um consenso, a um bom tempo atrás, de eu não interferir ao curso, a não ser que seja algo tão absurdo que, por exemplo: quando ele tiver trabalhando, eu entender que se ele fazer aquilo ele vai matar uma pessoa, entende?
Arlindo: o que eu mais admiro no Lucas, é a disponibilidade dele e o prazer que ele tem em cuidar e o maior desafio pra mim, é a questão da idade, porque pra mim é constrangedor, por exemplo, como a última vez que eu o acompanhei ao médico, a médica perguntou se eu era o pai dele. [Lucas rindo ao fundo] Então isso as vezes me deixa, eu tenho um certo constrangimento de nos expor na rua como um casal por causa disso.
Lucas: meu maior sonho é, eu e o Arlindo em Portugal, ele num sonho dele sentado numa varanda, assim, no alto de uma montanha, perto do mar. Ele olhando o mar, e eu olhando pra ele fazendo tapetes e tapetes, e eu com um, sei lá, um computador. E aquela brisa do mar e aquela coisa toda e nós dois juntinhos ali.
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Marcos: quando o Lucas tava comentando sobre nunca ter tocado numa vassoura, sobre a seletividade alimentar, enfim, que ele teve que aprender a comer direito parecia até que eu tava ouvindo um relato sobre uma outra pessoa.
Sophia: abafa o caso, mas realmente a autonomia, é uma questão muito relevante, nos relacionamentos de pessoas autistas. Vamos ouvir agora, Carol Cardoso. Em que questão da autonomia; também é muito relevante, mas no caso dela como uma mulher autista e lésbica.
Carol: olá, aqui é a Carol Cardoso, eu tenho 24 anos, nasci em Belém do Pará, mas eu morei a vida toda no Amapá, agora eu tô morando em São Paulo, e o meu diagnóstico de autismo só veio em 2018. Eu me identifico como lésbica, porque boa parte da minha vida, eu só tive interesse romântico por mulheres. Embora eu soubesse desde muito cedo da minha predileção por mulheres, eu sempre lutei muito contra isso, porque todo o meu contexto era completamente desfavorável as pessoas LGBT. Sem dúvida, o fato de eu ser uma mulher autista e lésbica, me posiciona de uma forma diferente em relação as pessoas que não estão nesse meio. Já começa pelo fato de, por eu ser mulher, foi muito mais difícil conseguir o meu diagnóstico de autismo, então eu tive outras questões de autoaceitação anteriores a descoberta da minha sexualidade, por exemplo: a dificuldade de me comunicar, também a minha dificuldade de fazer amigos durante a adolescência, infância e adolescência. Impossibilitou, que eu construísse uma rede de apoio com o que eu pudesse contar durante esse período delicado da vida, né. Até muito recentemente eu só tinha histórias ruins e traumáticas pra contar, mas felizmente hoje eu posso dizer, que eu consegui construir uma relação de parceria com uma pessoa que me entende, e o fato de ela saber que eu sou autista foi crucial. Relacionamento pra mim as coisas mais legais, são poder conversar bastante sobre assuntos diversos, ter uma comunicação livre, sem a pessoa achar que eu sou estranha ou que eu falo coisas estranhas. Porque, como eu tive muita dificuldade pra me comunicar em muitos contextos, por exemplo: não pedir informações, não saber pedir informações, não saber falar com pessoas que eu não conheço, não saber iniciar uma conversa. Então isso acaba levando as pessoas a minha volta, a estarem acostumadas com essa minha falta de aptidão pra cuidar de mim sozinha. E quando as pessoas tem essa ideia sobre alguém, é difícil imaginar que essa pessoa consiga se envolver emocionalmente, a ponto de conseguir ter um relacionamento amoroso ou sexual. É muito comum as pessoas, associarem o namoro ao patamar mais alto de desenvolvimento de habilidades, que a nossa deficiência se manifesta em um espectro. Então, a gente pode desenvolver, habilidades específicas, que possibilitem que a gente tenha um relacionamento amoroso, ao mesmo tempo que a gente talvez não tenha habilidades que para as pessoas sejam básicas. Mas, que pra gente exige muito mais trabalho, muito mais esforço. Mas o que eu quero dizer, é que a gente precisa respeitar as pessoas na sua integridade, como elas querem viver a vida delas, e que se por algum motivo, isso entrar em conflito com a forma que a gente quer viver a nossa, aceitar que é assim, que a gente não precisa ficar juntos como um casal, mas que a gente pode seguir se respeitando mesmo que a gente não seja.
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Marcos: essa citação da Carol, sobre a percepção que as pessoas tem do relacionamento, no namoro, como uma evidência de desenvolvimento de habilidades nas pessoas autistas, por um lado, não dá pra você colocar isso como uma possibilidade pra todos, né. Como a gente tem visto, existem diferentes formas das pessoas se relacionarem ou não se relacionarem. Ela pode tá em diferentes etapas da vida, em que ela pode querer alguém, ou pode estar num relacionamento, ou pode já ter vivido um relacionamento e até, né. Não necessariamente querer estar com alguém, e por outro lado, você tem as vezes médicos questionando, ou até mesmo adiando o diagnóstico de um autista, pelo fato de ele estar em um relacionamento. Ser casado, ter filhos enfim, é uma possibilidade. Ter o interesse, ou estar em num relacionamento, ou constituir família, não tem uma relação direta com as características autísticas, pois é um espectro amplo.
Sophia: inclusive a Marcia e o Giovani, que são dois adultos autistas, e ambos tiveram filhos em relacionamentos anteriores, hoje constituem uma nova família.
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Giovani: meu nome é Giovani Ragazzon, eu tenho 43 anos, sou analista de sistemas na SOP, e o meu diagnóstico de autista veio em 2010, no ano que eu entrei na empresa, junto com o diagnóstico do meu filho.
Marcia: meu nome é Marcia, eu tenho 44 anos, eu trabalho com desenvolvimento, qualidade de softwares, ligado a parte de acessibilidade, também trabalho na SAP, e o meu diagnostico veio em 2015, um pouco antes de entrar pra empresa.
Giovani: então, a gente se conheceu na empresa. Eu já trabalhava lá, quando um dado momento foi comentado, que entraria mais uma pessoa autista no time. Foi feito todo um trabalho com a equipe e tal, pra receber essa pessoa, e aí a Marcia entrou no time então. Ficamos ali só como colegas porque eu era casado e ela era casada, e aí em 2019 me divorciei, ela também. E já tinha, nós já tínhamos aquele vínculo, aquela amizade, e a partir dessa amizade foi, a amizade foi fortalecendo, a gente foi se aproximando cada vez mais, e a gente virou um casal. Em relação aos casais típicos; bom pra começar eu não conheço muito, eu não interajo muito a respeito de casais típicos. Eu sou muito, de cada um tem a sua vida, viva a sua vida, com suas alegrias, seus problemas, eu não tenho nada a ver com isso. Mas do pouco que eu vejo, que eu percebo, porque isso é uma dificuldade minha de perceber as coisas, se não estiver muito na minha cara, é que muitas vezes as pessoas tentam deixar tudo muito separado, e um relacionamento pra mim não é isso. Pra mim relacionamento é junto, é uma unidade. Olha, eu não sei o que que a gente tem de semelhante com casais típicos.
Sophia: é, até foi bem estranho, assim, durante a pandemia que... Eu escutava muito assim “aí meu Deus, agora eu vou ter que ficar no mesmo ambiente com meu marido o dia inteiro” e eu achava isso muito estranho, porque pra mim era muito bom tá junto do Giovani o dia inteiro.
Giovani: melhor coisa. Essa transparência que a gente tem, é uma coisa que de uma forma geral, é muito divergente dos demais, porque a pessoa inventa história pra arranjar coisas, porque não quer contar alguma coisa, que pra mim não faz sentido nenhum.
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Giovani: a nossa dinâmica de cuidado com a casa é meio sobre demanda, tipo: se um vê que alguma coisa tá ruim, vai lá e arruma.
Marcia: não ter tarefas definidas, assim, pelo padrão, né: “- Ah, isso é tarefa feminina, isso é tarefa masculina”, a gente não tem isso.
Giovani: eu acho fantástico, que a Marcia chega e diz assim “amor, eu não quero isso” ou “amor, eu quero aquilo” e não fica dando volta, e contando historinha e querendo fez e faz de conta, é uma coisa direta isso. Pra mim é excelente, e essa postura dela de ser direta, ela não é seca, nem rígida em nada, ela só é direta, cuidado tremendo comigo. Apesar de ser uma coisa dela, porque ela sabe que eu tenho essa dificuldade, de não conseguir entender entre linhas, então mesmo que em alguns momentos, com algumas pessoas, isso seja importante, “ai tem que ser falar mais assim, mais assado”, ela me ajuda demais nisso. E coisas que eu não vejo, ela sempre aponta, “amor, tal situação é isso, por causa daquilo”.
Macia: eu tenho várias dificuldades assim, que ele consegue prever, assim, a gente fala muito que é muito fácil de se comunicar com ele, porque as vezes eu nem falo nada e ele já entendeu tudo, eu falo duas ou três palavras e ele já previu tudo que eu ia falar. São coisas assim que, é uma sintonia.
Giovani: leitura de mentes [risadas].
Marcia: leitura de mentes. É muito estranho, eu acho que realmente, tem um superpoder aí, que ele lê minha mente, e as vezes eu não preciso explicar nada, ele já entendeu.
Giovani: o desafio maior, sabe. Não envelhecer feliz junto, essa vai ser a parte fácil, mas que a gente consiga fazer isso dando esse suporte para as crianças, que no futuro não vão mais ser crianças.
Marcia: que são crianças com autismo, né.
Giovani: sim, uma atualmente com 11 e a outra com 14. E eu ainda tenho um outro filho que mora com a mãe, de 12 anos. E a gente, o desafio é poder encaminhar essas crianças, porque a gente tubo bem, a gente tá encaminhado, a gente tá, somos adultos, trabalhamos, temos a nossa vida, nossas coisas, a gente tá encaminhado na vida. Mas eles não, eles têm as suas limitações, tem as suas dificuldades, até certo ponto, acredito que posso dizer, maiores que as nossas dificuldades, as nossas limitações enquanto autista. E o mundo é cruel, então a gente tem essa preocupação, esse desafio, de o que o mundo possa tratar eles com equidade. Sempre se fala em inclusão, em igualdade, mas a nossa luta é por equidade. Porque não adianta tratar todo mundo de forma igual, avaliar todo mundo de forma igual, e incluir todo mundo no mesmo balaio. Tem que ser, tem que ter equidade. Nosso plano, é organizar essa casa agora, deixar ela do nosso jeito, que no tempo que a gente, ir fazendo as coisas aos pouquinhos, deixando ela com a nossa cara, pra que com o passar do tempo seja a nossa casinha, a gente vai envelhecendo junto, sorrindo na varanda, na sacada do quarto, olhando o pôr do sol ou num motorhome na estrada, viajando ao redor do mundo, quando a gente já tiver bem velhinho junto.
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Sophia: o que o senso comum fala, e até tem um fundo de verdade, que os autistas não gostam de se comunicar, ou se socializar e tem dificuldades pra trocar informações, não atoa esse é um dos critérios de diagnóstico; dificuldade na comunicação social pra essa condição. No entanto, a gente já tem estudos que mostram que as pessoas autistas gostam de se socializar, principalmente quando estão com outros autistas. Então, essa dificuldade da comunicação quando a gente tá com outra pessoa do espectro, ela pode ser minimizada, ou até eliminada. Isso tá muito bem exemplificado nas falas da Marcia e do Giovani. Desse modo, a chegada do diagnóstico pode afetar ou impactar a maneira como as pessoas lidam com os relacionamentos amorosos e a sua percepção do amor romântico. É o caso da pesquisadora Amábile.
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Amábile: eu me chamo Amábile, eu tenho 34 anos. Eu atuo na área de extração rural e com cooperativas, faço pesquisa com mulheres, dentro da perspectiva dos afetos, e também atuo como terapeuta holística, terapeuta integrativa. E eu tô passando pelo processo de diagnóstico, eu tô passando agora pelo processo com uma psiquiatra. A trajetória pra eu chegar nesse diagnóstico ela é longa, né. Porque, desde a infância eu sempre tive algumas características que chamavam a atenção. É em especial, na verdade, quando eu entrei na escola, porque antes as minhas características diferentes, elas não me atrapalhavam de conviver com a minha família, com vizinhança. Com relação a relacionamento afetivos, eu sempre tive alguma questão, em todas as minhas relações. Eu nunca tive uma relação mais longa que um ano, sempre bem complexo porque eu não consigo identificar os meus sentimentos. E a gente vive entre o entender o que a gente sente, entender as nossas demandas, as nossas necessidades, entender essa necessidade do outro, entender aquilo que é exigido, e aquilo que eu teria que fazer, mas eu ainda não entendo por que que eu tenho que fazer, qual é o meu lugar nessa relação, acho que eu vivo tão bem sozinha [risos]. Eu tenho muita questão com a sociabilidade. Então, se relacionar com o outro é também tá se relacionando com outras pessoas.
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Amábile: Estar passando pelo processo de diagnóstico já melhorou muito a minha vida. Melhorou, porque eu já comecei a me relacionar informando, informando as minhas questões, informando coisas que eu já sei sobre mim. O amor tem relação com admiração, com partilha, com sonhos comuns assim, mas eu nunca é senti.
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Sophia: a empatia é um ponto crucial num relacionamento. O mito de que as pessoas autistas não podem ser empáticas vem caindo por terra. O que acontece é que existem dois aspectos centrais da empatia como conceito científico. Existe a empatia cognitiva, que tá mais ligada a uma percepção do sentimento do outro a se colocar na perspectiva do outro. E a empatia emocional, que tá ligada à como você realmente sente, quando você percebe o que outro está sentindo. Então, como a gente que é autista, muitas vezes tem dificuldades de elaborar e traduzir até os próprios sentimentos, que é um ponto que eu achei bastante interessante na fala da Amábile, quando a gente tenta se colocar no lugar do outro, isso pode ser um desafio. Isso até mesmo pros autistas que se identificam como hiper empáticos, porque empatia emocional costuma ser bastante preservada no caso das pessoas autistas. Quando a gente se identifica com o sentimento do outro, essa identificação muitas vezes é visceral, até por causa disso, um relacionamento também é uma oportunidade de aprendizado, a gente deixa de olhar só para as nossas próprias questões, para poder construir algo em conjunto com outra pessoa. Isso, pode ser observado também na fala do pesquisador e doutor em psicologia Doutor Vicente Cassepp-Borges.
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Vicente: a mensagem que eu quero deixar para os autistas que estão em relacionamento, que buscam relacionamento é da importância disso, assim, pra que ele tem pra vida do autista, né. Um relacionamento amoroso ele... eu acho que é esse trabalho que a gente faz na psicoterapia, enfim, pra ser uma pessoa mais adaptada dentro da sociedade. O relacionamento amoroso é algo que tem muito a nós ensinar, e ele tem um valor talvez mais forte que de uma terapia, então a ideia é tentar viver relações saudáveis. É importante que a pessoa que esteja do teu lado seja legal, e vivenciar o relacionamento como isso também, como um espaço de aprendizagem pra vida, né. E é muito gratificante viver relacionamento amorosos. Também pra não se frustrar quando as coisas derem errado, entender que o erro faz parte do relacionamento, que a gente vai errar, mas a gente tenta acertar. Vai ter uma oportunidade nova com uma outra pessoa, enfim, e quando isso acontece tem uma nova chance, né.
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Vicente: não desista, né. Mas também não se fruste, não coloque no relacionamento amoroso todas as fichas, assim de que vai ser a solução dos seus problemas. Se a pessoa tá triste ou coisa qualquer achar que o relacionamento amoroso é algo que vai resolver, isso aí não é assim, não é um relacionamento amoroso que resolve, ele não tá pra resolver problemas, ele tá pra quando a gente já descobriu a felicidade dentro da gente, ser algo que complementa essa felicidade, assim.
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Sophia: gente, acho que é isso que queríamos fazer. Claro que poderíamos ficar muito mais tempo falando sobre o assunto, mas o mais importante que queríamos, é demostrar toda a diversidade que existe, e até desfazer alguns mitos sobre o autismo, que essa temática afeta todo mundo de uma forma ou outra.
Marcos: esperamos que vocês tenham gostado dessa conversa assíncrona e polifônica, em que buscamos minimamente dar espaço e permitir a representação de diferentes idades, gêneros e identificações. Inclusive respeitando as diferentes formas de comunicação, que sabemos que existem entra nós autistas.
Sophia: fiquei muito feliz dessa oportunidade promovida pelo projeto Retratos Defiças, que nos encorajou a criação deste podcast. E quem quiser saber mais sobre o projeto, pode conferir no site “retratosdeficas.com”, tem outros podcasts e artes visuais de artistas brasileiros. Agradeço a sua audiência, e claro a participação dos nossos convidados, que se permitiram contar um pouco de suas histórias e vivências. Quem não me conhece, há mais de seis anos eu sou uma das idealizadoras, e sou apresentadora do canal “mundo autista”, na plataforma YouTube, onde você pode conferir mais conteúdo sobre a discussão do amor no espectro. Entre vários outros assuntos que nós abordamos por lá, que passam desde questões ligadas ao diagnóstico e dica pra autistas e familiares, e ainda questões do dia a dia. Sobre a discussão dos relacionamentos especificamente, você pode conferir qualquer um dos três vídeos a seguir: O primeiro é “autismo, sexualidade e relacionamentos”, o segundo “autismo e sexualidade” e terceiro “o que o amor tem a ver com o autismo?”.
Marcos: confiram, que realmente vale a pena.
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Marcos: participaram desse podcast os pesquisadores convidados: Táhcita Medrado Misael, doutora em psicologia, Vicente Cassepp-Borges, doutor em psicologia. Os entrevistados: Amábile Tolio Boessio, doutora em extensão rural, Carol Cardoso, arquiteta e produtora de conteúdo, Caroline de Souza, autista ativista e dona do Instagram ‘Autistando’, que aqui foi representada pela atriz Isabela Garcia, a professora universitária não identificada, representada pela atriz Ju Colombo. Também os entrevistados: Annibal Gouvêa Franco, professor de artes, e a sua namorada Melissa Marcílio, auxiliar de contabilidade, Arlindo Barcelos, estudante de enfermagem, e seu cônjuge Lucas Biondini, também estudante, Marcia Moreira Machado, desenvolvedora, e seu cônjuge Giovani Ragason, também desenvolvedor. Um agradecimento especial, as atrizes Ju Colombo, que como dissemos no começo, né? interpreta Dalva na novela “um lugar ao sol” da Rede Globo, e a atriz Isabela Garcia, que interpreta Ana Bezerra na novela “bebê a bordo”, também da Rede Globo. Esse podcast foi uma realização em parceria com o Departamento de Antropologia da Universidade Western, Canadá, representado pela pesquisadora Pamela Block, a ONG artivista Ateliê Ambrosina e a ONG ABRAÇA. Tivemos a colaboração do primeiro corte e tratamento da editora Radija Ohana. Codireção da principal apresentadora e produtora, a jornalista e escritora, Sophia Mendonça.
Sophia: beijo, pessoal.
Marcos: e também no roteiro e finalização, o roteirista e desenvolvedor Marcos Maia, este que vos fala. E mais amor, por favor.
Sophia: muito amor de coração pra coração e fiquem bem. Beijinhos.
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Olga Aureliano: o Ateliê Ambrosina, é a ONG de Maceió-Alagoas que está à frente da realização do Retratos Defiças, um projeto financiado pela Universidade Western do Canadá. Atua na produção local junto comigo, Vanessa Malta e Bruna Teixeira, e como pesquisadoras temos as antropólogas Nádia Meinerz e Pamela Block. O roteiro, gravação e edição é de Marcos Maia e Sophia Mendonça, cocriadores deste episódio; a finalização e vinheta é de Rodrigo Policarpo, e a transcrição é de Beatriz Simões, com revisão de Bruna Teixeira e tradução para o inglês de Deise Medina. Nos encontramos na semana que vem.
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