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No centro da pintura, sobre fundo preto, um personagem masculino, aparentemente não humano, é visto do peito para cima. Ele tem a metade direita do rosto coberto por uma máscara na cor dourada intensa, a outra metade cinza, parcialmente coberta por veias douradas, e o corpo cinza, com rachaduras em preto. Na cavidade ocular esquerda, dois olhos vermelhos, sobrepostos, sugerem movimento. Na boca, cinco camadas de dentes. Ele está com dois dedos sobre a parte dourada do rosto, escondendo quase todo o olho preto e morde um objeto cuja forma não se identifica, nas cores branco, vermelho e rosa, que aperta na mão esquerda. Da mordida escorre sangue vermelho sobre o objeto que morde. Da cabeça, saem feixes de luz como nuvens coloridas, numa forma arredondada para os lados, que afunila em cima. Junto à cabeça, os feixes de luz são vermelhos, sobem passando pelo verde e amarelo e chegam ao lilás e azul nas extremidades. À direita, em meio às luzes, um chifre preto.
Máscara: o terror colorido

A pintura representa o que nos engasga. Na sensorialidade aprisionada, existem complexos pensamentos perdidos: o silêncio que sufoca, a palavra que não sai. É devastador ser aquilo que não somos, mascarando nossa beleza, tipificando comportamentos e morrendo tragicamente com emoções que poderíamos gozar. A obra é o próprio Terror Colorido e revela que por trás das cores, existem muitas dores.

Cocriação: Daniel Nascimento e Flávia Neves

Técnica: Pintura digital

Ano: 2021

Itabuna - Bahia | Vila Velha - Espírito Santo | Brasil

Daniel Nascimento sou um homem autista, branco, tenho 33 anos e sou de uma família de classe média baixa. A arte faz parte da minha vida, desde o meu nascimento. Desde criança, eu me aventurava em expressões artísticas, como escrita, desenho, pintura, escultura. Sinto que não sobreviveria sem isso. Como autista e com as dificuldades psicossociais que tenho, a arte era meu refúgio. Não mensuro a dimensão do quanto isso foi e é importante na minha vida, porque no passado, eu não fazia ideia de que era autista e minhas desregulações e crises (provavelmente controladas com os desenhos) eram interpretadas pejorativamente e me causavam introspecção e vergonha. Lidar com as emoções sempre foi muito difícil, e as palavras não são suficientes para expressar tudo o que sinto. Os meus desenhos mais expressivos sempre foram representados por emoções fortes e agressivas, por isso foram bastante desencorajados, criticados e corrigidos, com o objetivo de me adequar a uma expressão mais dócil e servil. Agora, eu quero me colocar no mundo sendo quem eu sou, e desejo muito que o meu talento possa ser minha fonte de subsistência, pois desenhar é algo que amo e sinto que pode ajudar outras pessoas, assim como tem me ajudado a me entender.

Flávia Neves sou uma mulher autista, tenho 31 anos, sou branca e de família de classe média baixa. Licenciei-me em Letras pela Ufes, em 2011. Só me graduei porque tive adaptações e fui avaliada dentro de minhas competências, pois meus professores sabiam que não era preciso um laudo para isso. Eles viram que eu era diferente e esforçada, mas apesar do meu esforço, eu só me desenvolvia do meu jeito (e muito bem, obrigada), então adaptaram tudo que puderam. Entre os meus hiperfocos estão os seguintes temas: deficiências, educação, mente humana, estudos sobre a mulher e sobre direitos humanos, usos e aplicações da maconha na saúde, escrita e revisão de texto. Mais especificamente no campo das deficiências, me debruço sobre o autismo, que foi o que me uniu a Daniel, também autista e meu cúmplice na vida – cúmplice não só na compreensão da condição, como no vivê-la integralmente, não a rejeitar, acolhê-la. Acho que acolhimento é a palavra que nos une e nos define enquanto par.

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